sexta-feira, 7 de junho de 2013

Impudicícia



    As cercanias estavam parcamente iluminadas pelos postes decrépitos que margeavam a vicinal. Andei, transido por um horror inexplicável, que consumia cada célula viva, e morta, a constituir-me matéria e espirito, até adentrar a densidade sorumbática da vegetação. Inda hoje não consigo definir exatamente o que me impulsionou àquele lugar. Apenas a natureza dos boatos? Ou a inefável descrição dos abençoados infelizes que tiveram com ela? A curiosidade, neste caso, não importa-se em dar explicações, apenas nos insta, ainda que o ignorado nos custe alguma faculdade.

    Cheguei a um ermo. Desolado e inóspito. Soturno como um pesadelo do qual não podemos fugir, por mais que forcejemos. A vetustez do endereço estava inscrita não apenas no limo e nas ervas daninhas que vicejavam em cada recanto. Exalava através da atmosfera lodosa.

   Sentei-me a beira de um tronco lutulento, com musgos pululando, verdoengos. Havia caminhado por longas horas e meus pés cansados reclamavam pausa. O fôlego arquejava, às custas da parca resistência física que há muito perdera. Malgrado minhas caminhadas matutinas, o tabaco bem fez seu trabalho. 

    Recuperava-me, quando ouvi.

   Um inicio rugoso, um barulho taciturno e ímpio. Havia a certeza. Meu peito inflou-se de expectativa e daquele sentimento aflitivo que antecede o improvável, malgrado existir o desejo. Às minhas costas, as folhas podres avisaram. Os passos trouxerem o perfume da decadência e seu hálito brumoso roçou-me a nuca, eriçando pelos e alma. Os lábios tocaram-me o pescoço e senti o intumescido de sua constituição. Lábios gordos e molhados. Sói as libertinas os têm.

― Esqueça ― sussurrou-me, com o fragor dos inocentes corrompidos, ao ouvido.

    Até hoje dizem que ela, caso seja, você, indigno e néscio o suficiente a respeito dos vícios mais comuns e completamente indiferente às virtudes convencionais, lhe surgirá como a um orgasmo.

Quantas vezes um já o afetou a ponto de sofrer antecipadamente o seu fim? 

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