quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Sanguessedentos




“Mas não confie demais o homem na vitória sobre a sua natureza, porque ela pode estar sepultada durante muito tempo, e ressuscitar no primeiro momento de tentação" (Francis Bacon)

 
Sem beatitude. Sem admoestações estultas. Apenas frente às necessidades.
Aliás, estas são como os idealismos. Todos inúteis.

Ah, que considerações saltam-me a cabeça! Estou prenhe de abrasados desejos, gostos por todos os lados, conluios de vontades dissolutas!

As exortações insistem, mas renovo meus votos de resistência. Não há mansuetude neste corpo, neste espírito, nesta respiração.
Vês?
A lápide fora removida com diligente vontade. Ergueu-se da cova, nada putrefato, o sôfrego. Por você, auspício de prazeres.

Ignorava suas linhas, num mundo indiferente. Mas a confiança no modelo estóico é parva. Se sinalizarmos com tinta mais vívida, logo enxergamos a insídia. Ela, dona absoluta da minha luxúria, alcançou-me a matiz exata.
Estou a colorir efusivamente todos os espaços, agora. Haurir seus mandos irrefletidamente é o que passei a fazer. Escravo do cheiro. Vassalo dos aromas a espargir-lhe da tez, das sentenças fitadas nas íris de cores rutilantes.

Espero-te, ávido, na noite onde combinações inopinadas prometemos um ao outro. A porta de seu endereço, expectante, investigo os detalhes da umbra a nos acomodar durante a tarefa.
Ensejos pungentes, benjamins dos nossos acordos, falam-me das possibilidades.
Escuto os toques a descer degraus impertinentes a minha paciência. Vê-la e por o labor em curso. Vê-la e alegrar-me na fruição das pupilas resolutas.

Ósculo lascivo, com gosto do sangue. Aquele que marcou-nos o compromisso perene. No sêmen do acordo que fizemos, toda a cruciante verdade a nos possuir. Exultamos frementes ao toque dos lábios. Selvageria e fúria oportunizadas no encontro. Subimos à altura adequada. Esperamos, devolutos, os passos trôpegos das ovelhas. Saltamos sobre o rebanho e refocilamo-nos em seus gritos de suplica.

Resistimos a tudo, menos às tentações. Concordamos com o poeta irlandes.
Em verdade, mais.
Queremos aquilo que nossa natureza pode. Aquilo que nossa ascendência permite e aconselha severa. Enlaçamo-nos. Abraço vesano, enfeitado pelos mesmos gostos da fúria pontiaguda a pungir nosso ditame.

Eu e você, dona absoluta das necessidades urentes da carne a cobrir meu ofício. Querer-te na dor, fazer-te o alcance dos nossos detalhes lúgubres. Tão perto e, alucinadamente, tão longe.

Má sorte de todos os outros. 

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