As
coisas estavam ruins. Mas tudo pode piorar. Deve ser uma regra universal,
alguma lei da natureza.
Começou
com o roçar de seus lábios em minha nuca. Como se uma lagarta, com as patinhas
em chamas, sapateasse em minha pele. Depois veio o toque em meus lábios e a
língua enfiada em minha boca. A sua estava cheia daquela umidade que constrói o
desejo com tanto afinco, que toda e qualquer reticência do caráter diante da
dúvida se desmancha como açúcar em água fervente. Havia tanto calor, tantos
espasmos entre virilhas que meu espírito se rendeu à carne como as faculdades
humanas se desfazem diante da beleza inflexível. Soltei-me em cada sulco dos
lábios, em cada pedaço de sua boca, em cada drapejo de sua língua, intumescida
para vibrar a devassidão na freqüência exata.
Então,
como se este advérbio estivesse atrelado a todos os melindres, ela furou-me as
expectativas em um Himalaia de caquinhos recolhidos da minha estupidez
luxuriosa. Fui arremessado de encontro às vaidades mais negras e turbulentas,
com tudo sendo rasgado, cortado e triturado. Por tudo quero ilustrar toda a esperança em ter encontrado a perfeição
que nós, machos, buscamos a vida toda em uma fêmea. A armadilha insidiosa do
querer fechou-se como o breu numa súbita queda de energia no meio da madrugada.
Um estampido. Um momento seco e intenso. Afastou-se, sentando logo à frente,
com a indiferença das gurias onde a perfeição das curvas a tudo permite.
Lambendo
o fio com a avidez das putas mais experientes, ela olhava-me com um afinco que
só notamos na essência daquela matéria nebulosa da qual os pesadelos são
feitos. A solitária gota, gorda e espessa, escorria lentamente pela língua fendida
no deslizar do fio, brilhando à luz ígnea da lâmpada que balançava cadenciada,
em um ritmo desdenhoso. Seu corpo, nu, tosquiado à perfeição, com os músculos rijos,
firmes e provocantes, provocava a Razão, rindo do confuso embate entre o terror
e o tesão. Levantou-se da cadeira rota, logo a frente, e aproximou-se. O sorriso
em seus lábios, manchados em vermelho, não combinava com aquele em seus olhos,
onde uma espécie de maldade brincava com a ingenuidade das santas mais
imaculadas. Atado com couro cru, encharcado pela água lodosa do balde ao lado, vi a
beleza translúcida, cravada no concreto das suas formas perfeitas, chegar-me a
ponto de empurrar o ventre contra meu nariz. Inspirei o mais profundo que pude
e o cheiro do seu sexo invadiu toda trama de receptores que minha fisiologia permitiu.
Entre as pernas, endureci. Ela riu. Um riso que parecia o som de jornal sendo
amassado.
A
lamina desceu com tanta fúria, socada com tanto vigor, que as estocadas
entravam e saiam com a cerimônia de um cachorro no cio. Quando seus músculos fatigaram,
afastou-se e desabou sobre a cadeira. A dor latejava-me todos os nervos e gânglios.
A vida ia rápido, sem tempo de, ao menos, olhar pra trás. Um instante antes de
cair nas trevas do esquecimento, a vi meter as mãos entre as pernas e
lubrificar o sexo com o sangue em profusão que lhe manchava cada nesga de pele.
Os dedos pareciam trabalhar habilidosamente enquanto seu lábio inferior era
mordiscado por dentes perfeitos.
As
coisas estavam ruins. Mas tudo pode piorar.
Um comentário:
oi Victor, uau, que conto maravilhosamente apavorante!
Pois é, guri, tu viu só, final de setembro tá por aí pelos sites das livrarias meu romance sobrenatural, Paredes Vivas. Será uma honra contar com seu apoio na divulgação. Aceito!! hehe
Imagem da capa:
http://4.bp.blogspot.com/-0clSXC9qoao/UhPS-B2e1UI/AAAAAAAADAE/LTunuHhXYOs/s220/capa
Link pra quem quiser saber mais:
http://www.facebook.com/ParedesVivas
Na fanpage tem a sinopse e link do Skoob e atualizações em geral.
Qualquer coisa mais, dúvidas, outro tamanho de capa, enfim, só pedir. rosa-mattos@bol.com.br
Muito obrigada/ \o/
E vida longa a nós, arteiros. rs
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